Sem medo de espinhos
Um tipo de vegetação sem valor no passado hoje representa tudo na vida de Maria Pastora da Silva. Há três anos, ela desenvolve trabalho artesanal com o croá, típico da região de Pindoguaba, distrito de Tianguá, Serra da Ibiapaba. Ainda criança, teve o primeiro contato com a fibra, quando aprendeu a fazer cordas para armar redes de dormir e arreios de animal. Era comum pegar a matéria-prima nas redondezas.Aos 51 anos, Pastora ainda entra no mato em busca do croá. "É uma lida difícil, precisamos ter muito cuidado por causa dos espinhos", explica. A diferença é que, agora, de suas mãos saem peças decorativas e utilitárias, principalmente jogos americanos e passadeiras, a sua especialidade no tear. Mesmo com tanta dedicação, a renda ainda é insuficiente para a sobrevivência da família. Diz que apenas uma vez conseguiu mais de R$ 100,00 por mês. Por isso, procura outros meios. Além de ajudar ao marido na roça, integra um grupo de produção de artigos de limpeza também criado pela Associação. Pastora lembra também que se emocionou quando viu peças do Grupo expostas em ambientes da Casa Cor Ceará 2007, evento de decoração em Fortaleza. Em 1850, os moradores de Pindoguaba, um distrito de Tianguá, já produziam cordas com o croá, que eram utilizadas nas construções das casas de taipa e para amarrar animais. O uso da planta farta e típica das regiões áridas não passava disto. "Aos poucos, a comunidade, com cerca de 2.500 pessoas, passou a se interessar pelo resgate dessa cultura", comenta o presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário de Pindoguaba, Francisco das Chagas Sobrinho. A partir de então, também foi criado, com apoio do Sebrae, o grupo Flor do Croá, no qual estão cadastrados 22 artesãos, mas apenas 12 se dedicam diretamente ao trabalho. Dentre eles, nove são mulheres.O grupo já teve um showroom chamado "Casa Cor", onde as criações ficavam expostas de forma ambientada. Em decorrência das chuvas, precisou mudar de endereço e, agora, o ambiente é bem menor. Os artesãos trabalham, principalmente, sob encomendas. Um dos projetos, segundo Chagas, é resgatar a importância que a fibra tem no desenvolvimento local. Dentre as iniciativas está a participação no Movimento Comércio Justo e Solidário, em parceria com o Sebrae. Antes de o croá ser descoberto como matéria-prima de produtos artesanais em Pindoguaba, Andreza Oliveira de Lima, 31 anos, levava uma vida comum às mulheres do distrito: tomava conta da casa, dos filhos e participava de um projeto social, no qual fabricava produtos de limpeza. Continua com as mesmas atividades, porém acrescentou à rotina a arte de trançar móveis e objetos decorativos.É no portão de ferro, da casa onde mora, que Andreza passa horas de pé fazendo o seu trançado. Um molho da fibra é amarrado na grade para ser enroscado até formar a corda.Os fios vão sendo emendados, formando uma espécie de novelo de lã. A partir daí, o croá está pronto para ser transformado em peças como luminárias, estantes, mesas, bancos, cadeiras e o que for necessário.A artesã costuma fazer a primeira etapa do trabalho em casa, quando tem uma folga, ou à noite. Na parte da tarde, reúne-se com o Grupo Flor do Croá, na sede da Associação do Desenvolvimento Comunitário de Pindoguaba. Por mês, Andreza consegue ganhar algo em torno de R$ 60,00.Mais do que uma fonte de renda, o artesanato se transformou numa terapia para Andreza.
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE(25 de Abril de 2010)
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