quarta-feira, 30 de abril de 2014

AGRICULTOR SAI DA ROÇA PARA CONQUISTAR DIPLOMA DE AGRÔNOMO NA UFC


A 103 quilômetros de Fortaleza, no município de Pentecoste, José de Paula Firmiano de Sousa, agricultor e pai de oito filhos, resolveu mudar o destino da família. “Zé Alfredo”, como é conhecido pelos amigos, iniciou o trabalho na roça ainda criança, aos 7 anos, plantando milho, feijão e algodão. Aos 37, entrou pela primeira vez em uma escola com uma meta: a de ingressar na universidade.
“Eu sentia necessidade de falar corretamente, até de discursar diante das pessoas. Percebia esse desejo, e as coisas foram se encaminhando para que eu conquistasse algo melhor”, conta. Por meio de supletivo, concluiu o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Graças ao Programa de Educação em Células Cooperativas (Prece), formado por estudantes de municípios do interior do Ceará, fez o pré-vestibular. “A minha rotina era trabalhar e estudar nas horas vagas”.
Por dois anos, ele e a filha andavam cerca de 10 quilômetros até a comunidade rural de Cipó, a fim de participar dos estudos em células para ingressar na universidade. Iam a pé, de canoa, de motocicleta e, às vezes, tinham a sorte de conseguir carona até o local, que funciona em um campo aberto, no meio do Sertão do Ceará.
O esforço não foi em vão. Pai e filha passaram no vestibular e ingressaram na Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele, no curso de Agronomia, ela em Geografia. Com a conquista, Zé Alfredo passou a morar na residência universitária, em Fortaleza.

De segunda a sexta-feira a rotina era voltada aos estudos para o curso. Além de bolsista universitário, ainda fazia trabalhos extras durante a semana. No sábado, já estava novamente em Pentecoste para trabalhar na roça e ajudar a esposa e os filhos, ainda pequenos. “Eu ficava trabalhando na agricultura rudimentar. Todas as culturas que davam certo plantar, eu plantava”. Já o domingo era destinado a ministrar aulas no Prece para ajudar companheiros da comunidade a ingressarem na faculdade, assim como ele. “Me tornei facilitador das disciplinas, é uma experiência muito boa”, comemora.
Zé Alfredo, ao longo da graduação, trabalhou com afinco para que muitos de sua região também tivessem a oportunidade de entrar na universidade. “Se o meu Ensino Fundamental e Médio não tivessem sido na dificuldade, se fossem muito fáceis, não daria tanto valor à universidade como eu dou. Eu era uma pessoa da roça, não tinha o hábito de ficar fora da minha comunidade, foi tudo muito difícil”, confessa.
Segundo o agrônomo, o mais árduo foi ter de ficar longe da família. “Morar na residência universitária e ficar distante da minha esposa e dos meus filhos foi muito complicado. Toda vez que eu saía, minha filha chorava. A gente sente muito, porque é uma mudança grande”, relata.
Desistir?
Engana-se quem pensa que as férias do agricultor e estudante eram somente lazer. Tinha de colocar em dia o que estava faltando na roça. O trabalho realmente era pesado. Por vezes, José de Paula pensou em desistir do curso – que tem duração de cinco anos – e voltar a morar e trabalhar de sol a sol em Pentecoste, mas o apoio da esposa foi fundamental para que fosse até o fim. “Eu ia abandonar os estudos, porque todos da minha casa estavam trabalhando muito, e eu precisava ajudar. A minha esposa me pediu para não fazer isso, porque a minha formatura eu estava devendo a ela. O lado positivo foi muito forte para que tudo desse certo”, conta.
A batalha valeu a pena. No fim de 2013, lá estava Zé Alfredo, aos 53 anos, entre os 404 concludentes dos centros de Ciências, de Tecnologia e de Ciências Agrárias que colaram grau na Concha Acústica da UFC. “Eu não tenho palavras para dizer o tamanho da minha felicidade em ter concluído o curso. A minha meta é continuar estudando, enquanto eu tiver condições e oportunidade. Uma coisa que me faz bem é estudar”, diz.
Fonte: Tribuna do Ceará